História




Resumo

O Grupo de Pesquisa Literatura e Tempos Sombrios foi formado em dezembro de 2020, pela Profa. Dra. Carina Marques Duarte. Desde 2021 tem realizado Seminários online para divulgar os trabalhos de seus integrantes, bem como possibilitar aos acadêmicos, através do contato com o trabalho desenvolvido por pesquisadores do Brasil todo, experiências qualificadas de reflexão acerca da literatura.


Objetivos do Grupo

Estudar a prosa e a poesia, nas Literaturas de Língua Portuguesa, produzidas em tempos sombrios – de opressão, de violência, de guerras, de autoritarismos e de desespero –, com ênfase nas produções literárias dos séculos XX e XXI. Desse modo, constituirão o âmago do nosso interesse textos produzidos durante as duas guerras mundiais, o Estado Novo de Vargas, a ditadura militar, o Estado Novo em Portugal, a Guerra Colonial e as Guerras Civis nas ex-colônias africanas e obras que elaborem os traumas e as memórias de tais eventos.  


Linhas de Pesquisa

Comparatismo, relações entre textos e literaturas: investigar a eficácia da intertextualidade nas Literaturas de Língua Portuguesa – Portuguesa, Brasileira, Angolana, Moçambicana, Cabo-Verdiana e Guineense.   

 Literatura, história e memória: estudar o diálogo entre a literatura e a História e, mais do que isto, verificar em que medida o texto literário preenche os vazios da História e/ou se insurge contra a “história oficial”, configurando-se como tentativa de contributo para a construção da memória coletiva. 



Justificativa para criação do grupo de pesquisa na UFMS

No texto “Memória e identidade social”, Michael Pollak afirma que certos eventos traumatizam tanto um povo, que a sua memória pode ser transmitida ao longo de séculos com um nível notável de identificação. Desta ordem são, por exemplo, as experiências decorrentes de guerras e de opressão, inclusive a perpetrada por governo autoritário. 

Se, por um lado, as memórias permanecem, por outro, há, também, uma tentativa de esquecimento. A este propósito, Hannah Arendt comenta, no livro Homens em tempos sombrios, a quantidade significativa de discussões acerca da tendência de agir como se os anos entre 1933 e 1945 nunca tivessem existido, como se esse período da história alemã e europeia pudesse ser elidido dos manuais de história, “como se tudo dependesse de esquecer o aspecto negativo do passado e reduzir o horror à sentimentalidade”. 

A estudiosa afirma que a dificuldade dos alemães em lidar com o passado talvez possa ser explicada pelo clichê “o passado não foi dominado”, mas adverte que é impossível dominar o passado da Alemanha hitlerista, e o máximo a fazer é saber como ele foi e suportar esse conhecimento. 

Seja pelo incômodo de lidar com o sofrimento provocado pelas lembranças, seja pelo interesse político no ocultamento do passado – que, no Brasil, é evidenciado, inclusive, nas visões controversas acerca do golpe de 1964 –, percebe-se que há zonas de silêncio, de tentativas de apagamento. 

Recordo-me oportunamente de um fato ocorrido em 2007. Naquele ano, a TV pública portuguesa realizou um concurso, cujo objetivo era escolher “os grandes portugueses”. O resultado foi surpreendente: o ex-ditador Antônio de Oliveira Salazar, que dirigiu o país, como Presidente do Conselho de Ministros, de 1932 a 1969, recebeu o maior número de votos, deixando para trás na disputa, entre outros tantos, reis do período áureo das conquistas e poetas, como Camões e Fernando Pessoa. 

Refletindo sobre a eleição daquele que aparelhou um Estado opressor – com uma polícia política, a PIDE, responsável por torturar e matar milhares de portugueses e africanos – como o “Grande Português” de todos os tempos, o historiador Luís Reis Torgal aponta, entre as razões para o fato, a inexistência de uma memória “científica” sobre Salazar e o salazarismo. Não havendo a memória “científica”, de acordo com o estudioso, vão sendo captados os aspectos “bons” de Salazar e esquecidos os “maus’, de maneira que surgem representações amenas do ditador e do regime político, que ocultam a imagem mais difícil de captar, a de uma história objetiva. 

O escritor Mia Couto, em um ensaio que integra o livro E se Obama fosse Africano?, declara que os moçambicanos, porque foram vítimas e culpados, esqueceram partes consideráveis da Guerra Colonial, da Guerra Civil e da guerra secular contra a escravidão. É contra esse esquecimento, visto por Paul Ricoeur, como de fuga, de má fé e um tanto perverso, que a literatura se insurge. Nesse sentido, o texto literário, ao elaborar eventos traumáticos, se efetiva como uma estratégia de não esquecimento e de compreensão e reflexão sobre o passado, para que os seus efeitos sejam conhecidos. 

Isto posto, estou em condições de afirmar a validade da criação de um grupo de pesquisa que reúna pesquisadores das áreas de Letras (Estudos Literários) e História, com um interesse comum: o estudo da literatura enquanto forma de elaboração – em prosa e poesia – dos tempos sombrios. Saliento que tal grupo, por privilegiar a integração entre as unidades, impulsionará a produção intelectual na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Profa. Dra. Carina Marques Duarte


Estratégia de inserção acadêmica do grupo na UFMS

  • Realização de cursos nas modalidades ensino e extensão; 
  • Organização de simpósios em congressos, tais como o Congresso da ABRALIC; 
  • Publicação de artigos em periódicos; 
  • Apresentação dos resultados dos trabalhos em eventos científicos; 
  • Organização de livros, que reunirão os resultados das pesquisas do grupo. 



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